Quando a pobreza vira emprego.



Não é de hoje que essa observação nos povoa a mente. Até que ponto a pobreza sobrevive dela mesma, qual um estado de espírito ou uma camada social no mundo? O que é ser pobre? é não ter o que comer e mendicar ajuda ao longo dos dias, pedindo um pão para sobreviver e um dinheiro para voltar para sua terra natal!? ou é pegar seu filho pequeno e usá-lo como forma de comover os viventes, arrancando migalhas de sua piedade, seja em dinheiro ou espécie, dependendo da porta do estabelecimento que você escolheu para sentar? Talvez a pobreza venha daquele que, do lado oposto da vida, se entrincheira em sua covardia, de olhar nos olhos do outro para enxergar a verdade do que está ali, para ajudar ou não ajudar, limitando-se a seguir em frente, sem sequer saber o que o outro deseja lhe pedir.



É um fato que tem muito pilantra andando por aí afora, fazendo da pobreza sua forma de ganhar o pão. Não vou esquecer certa manhã, quando me dirigia com dois queridos amigos - Cida Araújo e Bolacha (muitos aqui o conhecem) e ao passar debaixo do viaduto do GLicério, externando minha 'pena' por aquelas pessoas que se amontoam em condições indignas por ali, ouvi a sabedoria de quem veio, retirando-se do Nordeste, em busca de uma vida melhor, me dizendo que "depende, pois é muito mais fácil ficar nesse lugar tão visível e ganhar as coisas, do que sair procurando um tanque de roupa pra lavar".

Pois é, Dona Cida...

Depois desse dia, passei a observar as coisas com mais argúcia. As vezes, a comiseração nos tolda a vista. Nem sempre é o caso de, realmente, miséria humana. Muito embora, até alguns golpes são motivados pela própria miséria humana e isso também é digno de pena. Hoje mesmo, vindo trabalhar, novamente passei pelo dito viaduto do Glicério. E lá vou eu me lembrar de dona Cida e sua sabedoria. Estamos perto do Natal, já. E passo por ali todos os dias. Não precisa muita inteligência para reparar, que novas barracas se amontoam, agora com crianças e as mulheres gordas e sorridentes (sim, sorridentes!) pedindo ajuda (de qualquer espécie).


Não é o primeiro ano que isso acontece. Eu mesma já levei muita coisa ali. Acabou o Natal, sumiram as tais barracas e voltam apenas àquela comunidade original dos reais precisados, craqueiros e largados da comunidade em geral.



Logo você percebe que aquelas pessoas tem a percepção que nas proximidades do Natal, aquela área tão visível, é de fato um excelente ganha-pão. Um empregaço! Ainda mais pra quem tem crianças. É fato que alguns cidadãos, entrincheirados naqueles carrões, que mais parecem uns tanques de guerra, param quilômetros de distância do carro da frente, apenas para não ficar perto dos pedintes, o que ao meu ver, igualmente demonstra outra pobreza humana. Mas outra parcela mais suscetível, para e entrega, roupas, brinquedos e comida também (eu mesma já fiz isso VÁRIAS VEZES!).



Como agir? ceder? subsidiar a indústria da pedincha?! Mais um desafio para corações e mentes tão abalados nessa época natalina. Difícil resistir ao pedido de uma criança. Ou não. Algumas, de tão profissionais, já não conseguem mais comover. Outras nem tanto. Não há receita, apenas o dia a dia de outro filão que cresce, desde que o mundo é mundo e os espertos sobrevivem na medida de sua necessidade, pois é óbvio que, apesar da malandragem, não estariam fazendo essa presepada, se tivessem um mínimo garantido de uma situação razoável.

Podiam também procurar um emprego. Sim, isso é um fato. Mas também não cabe a mim julgar a história estampada no rosto marcado de cada humano sofrido.


É dar ou não dar e seguir em frente. A cada um conforme suas obras. Confere, Produção?

Mas lembrando sempre que será cobrado a cada um pelo que foi feito. Tanto para quem engana, quanto para quem ajuda ou para quem despreza ou para quem realmente precisa!




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