Mamadeira da Madrugada!

Há muito tempo que me preparo para enfrentar esse dragão. Na verdade, há muito que já tinha que ter enfrentado e me acovardo. Pior. Confesso que já o tentei enfrentar e desisti na primeira escaramuça. E cá estamos nós, após completar 2 anos de vida da minha Sofia, do meu bebê amado e ela AINDA mama de madrugada.

Mas eis que nos deparamos de novo com o dito cujo.

Após alguns meses de uma tosse seca, incomodativa, que nos perseguia sempre que a Sofia mamava de madrugada (ai ai), no meu inconformismo crônico, busquei consultar o meu bom e confiável otorrino, Doutor Leonardo da Silva, em busca de um parecer a respeito de possíveis incômodos que justificassem a tosse e, QUEM SABE, as incontáveis acordadas, gemidas, lamentações da minha pequena ao longo da noite.

Explico. Ela dorme pontualmente às 21horas. Toma, nessa hora, uma mamadeira de 280ml de leite. Geralmente lá pras 22h30 já dá a primeira chorada (ou gemida ou lamentada). Não necessariamente acorda ou pede algo, mas geme e chora o suficiente para me despertar a atenção, esteja eu dormindo, acordada ou, via de regra, estudando (e me quebrando a concentração). Segue dormindo até pontualmente às 1h21, quando acorda e pede "TÉtinhoooo". Aí mama (trocamos sua fralda), dorme de novo até as 7horas, mama de novo e dorme até as 8 horas, quando então acorda e vai pra vida.

Há sujeito que seja feliz dormindo assim, com essas interrupções ao longo de 2 anos?

Há: minha mãe, master-king-blaster-top.

Mas eu me acabo. Ainda que tenha sobrevivido ao longo desse período, nunca me conformei. Apesar de manter o bom humor (numas...), vários foram os achaques e tentativas de arakiri com palitos de dentes ao longo das madrugadas gementes e gemildas. Pensava eu, naqueles inúmeros livros de mágica, que diziam que os bebês dormiam a noite inteira desde os 7 meses de idade,  e eu, que cazzo teria feito ao Cristo para penar 1 ano e 3 meses além da média, sem a menor perspectiva de mudança?

Bom, eu sei que nessas idas e vindas, já tínhamos ido em tudo que era lugar e circunstância, buscando trazer um sono robusto e sereno para ela (e para mim). Fomos ao gastro (seria refluxo?), fomos ao Centro Espírita (seriam perturbações?), fomos ao pediatra (bom, isso é normal para nós), fomos benzer, fomos a tantos lugares que perdi até a memória, sem um parecer favorável, que me conduzisse a uma esperança.

Bom, voltando a tal da tosse sequinha, que só aparece quando ela dorme...

E ai? Alergia? Rinite? Não. Disse o pediatra. Resfriados. Façam bastante inalação que a tosse melhorará porque fluidificará a secreção. E passavam-se os meses. E a cada mamada da madrugada, vinha aquele acesso de tosse, que eu levantava 3, 4, 5, 6 vezes para tentar ajeitá-la de forma a fazer o sono fluir mais fácil, pois, PASMEM, quando ela pegava firme no sono, a tosse misteriosamente passava.

E dá-lhe milicon para tirar os gases (sim, porque os gases as vezes não a deixavam dormir), põe o cobertor, tira o cobertor, troca a roupa, era fato certo: começou a tossir, era sinal que ela estava prestar a acordar. E isso, as vezes a 1h da madrugada, as 5horas...Ê vidão...

Como todo ser humano acaba por se adaptar a tudo, inclusive ao pior dos mundos, passaram_se três meses até eu me convencer a liberar os quatrocentos paus e fazer mais esta tentativa. Vamos ao otorrino. Marcada a consulta, feitos os exames minuciosos pelo meu bom dr.Leonardo, diagnóstico certo: "Luciana, ela não tem problema nenhum. Pelo que você esta contando,o problema esta nessa rotina errada noturna dela. vamos tirar a mamadeira da noite?"
Pois é. Voltamos ao dragão, pois de São Jorge e de louco, todo mundo tem um pouco, né não? (era esse o ditado!?)

Bom, o fato é que naquela noite já demos inicio à difícil batalha. Fomos dormir cedo, nem me meti à balão de pegar em livros naquela noite...1h21m em ponto, começam as primeiras conversações...ela lá no bercinho dela, em seu quarto e eu no meu quarto, ao lado. Claro que chamei reforços, sabia que a batalha seria longa e trouxe minha mãe pro quarto.

Passaram longos 30 minutos. Eu rezando, ela falando, a madrugada fluindo...

Quando vi que o negócio não desatava, resolvi intervir. Assim que ela me viu, a maior animação: "mamãe qué tetinho...". Peguei-a no colo e com a minha melhor retórica procurei lhe explicar que não teria mais tétinho durante as noites, só de manhã, quando ela acordasse, que o melhor era ela dormir.

Aí que a casa caiu. Enquanto eu a embalava, cantava minha melhor canção de ninar, ela esperneava, queria descer e gritava, chamava a vovó, pedia o tétinho. Passados alguns minutos nesse embate, coloquei-a de volta no berço, o que acarretou nova onda de protestos. Pedi a ela que dormisse, pois eu ficaria lá com ela aguardando. Nada...De modo que resolvi voltar pra cama.disse a ela: " minha filha, durma, que amanhã, ao acordar, você tomará seu tétinho. Vou pro meu quarto. Beijo." E sai, resoluta.

Qual não foi minha surpresa quando ela sossegou e dormiu? Direto. Sem um gemido, uma lamentação, um choro. Até 9H30M. Felizes da vida, todas em casa perdemos a hora e a nossa bebê acordou feliz e de olhos inchados de tanto dormir.

E assim foi durante essa semana. Não pediu mamadeira e dormiu bem demais. Sem tosse. Sem gemido. Sem lamentações. Mas a guerra não estava finda, AO CONTRÁRIO DO QUE EU IMAGINAVA. Completada uma semana, voltou ela a me pedir mamadeira mas às cinco da manhã. Instada pela minha mãe, que achava que o dia já era nascido, cedi.

Resultado: na noite seguinte, três e meia da madruga, estava ela de novo me pedindo o tetinho e depois 1h30 e , em síntese: a guerra e longa. Eu havia ganhado uma batalha mas a guerra ainda esta longe de acabar. E hoje retomamos. Vamos ver no que dá.

Forçamos. Pelo bem dela e do nosso também.